Amaury Bentes

Bem pessoal, se é para dar uma força para uma causa justa, deixo aqui o meu depoimento:

O meu nome é Amaury Bentes. Apesar de ter formação na área de humanas, sempre fui apaixonado por computadores. Por isso abandonei um mestrado na UFRJ para me dedicar a estudar Informática por conta própria. O meu orientador até me ofereceu um doutorado nos Estados Unidos caso eu concordasse em terminar a tese  e continuasse na área, mas eu estava decidido, pois sempre achei que a gente só se realiza profissionalmente fazendo aquilo que gosta.

Nos anos 90, fui para São Paulo e comecei a trabalhar como instrutor de informática na Impacta, que na época ainda era uma empresa pequena, mas muito promissora. Me tornei certificado pela Microsoft e fui evoluindo a ponto de ter escrito durante quatro anos uma coluna sobre informática em um conhecido jornal paulista.

Então, criei o primeiro curso de Windows Avançado da cidade, onde eu explicava os arquivos de configuração e ensinava a mexer no registro do sistema. Cada dia eu aprendia mais e era natural que acabasse escrevendo sobre o assunto de que gostava tanto, ainda mais com o incentivo dos alunos.

Meu projeto era fazer um livro de Informática que ninguém tivesse ainda escrito no Brasil. E escrevi um chamado “Windows 98 – Arquitetura e Registro, Tecnologias e Recursos Avançados”. Foi o primeiro livro escrito em português que abordava em profundidade como manipular o registro e outras características avançadas do sistema da Microsoft para personalizar a máquina.

No Começo Tudo São Flores

Procurei a Axcel e conheci o Ricardo Reinprecht, que na época me causou uma boa impressão. Super gentil e irradiando otimismo. Era o típico empreendedor bem sucedido, aquele cara que parecia adorar o que fazia e que estava sempre de bem com a vida.

No início o livro não apareceu muito, até que duas pessoas conhecidas da área deram um força: a primeira foi o B. Piropo, um famoso colunista que escreve sobre informática no jornal O Globo, que publicou uma coluna elogiando muito o livro. O outro foi o Gabriel, que o indicou como livro do mês em seu site, o Clube do Hardware. Faz muito tempo, não é mesmo Gabriel?

Depois disso o livro ficou bem conhecido e o estoque foi todo vendido. Também escrevi um segundo livro para a Axcel sobre o programa Fireworks, um editor de imagens para a web, muito usado pelos webdesigners.

Depois Vem os Espinhos…

Meu primeiro azar foi com a maxi-desvalorização do real que o governo foi obrigado a fazer em 1998, em consequência de problemas com o financiamento da dívida pública, agravada com a crise da Rússia, que afetou todos os países em desenvolvimento, como o Brasil. Vi a grana que eu tinha para receber no começo do ano seguinte desvalorizar-se em 30% sem poder fazer nada. Mas até ali, tudo bem.

O pagamento dos royalties (direitos do autor) por contrato era trimestal. E enquanto o livro vendia medianamente eles me pagavam pontualmente. Mas depois de um tempo e, principalmente, depois que começou a vender bastante começaram as dificuldades para eu receber.

Eu precisava ir, pessoalmente, na editora em datas que eles marcavam e quando chegava lá às vezes não tinha dinheiro, outras não havia ninguém para atender. Falei com o Ricardo Reinprecht e ele me orientou a falar sempre com o sócio dele, o Romero, que de acordo com o que me disse, era quem cuidava dessa parte.

Perdi a conta do número de vezes que fui na sede da editora em Bonsucesso para tentar receber. Eles pagavam, é verdade, mas sempre com atraso ou só uma parte do que deviam.

No final, acabei recebendo tudo (pelo menos de acordo com as planilhas que eles me mostravam). Mas para cada vez que conseguia sair de lá com alguma coisa, eu já tinha ido lá umas outras três sem ver a cor do dinheiro. E, ainda por cima, por força dos contratos, tive que ficar quatro anos sem poder publicar nada por outra editora.

Inclusive o sócio do Ricardo, o Romero, que agora soube pelo Gabriel que também saiu de lá com um tremendo prejuízo, era um dos que mais me sacaneavam. Mandava dizer que não estava e às vezes me tratava com ironia. Uma vez quando ele novamente me enrolou, adiando pela terceira ou quarta vez a data do recebimento, eu disse que não iria mais escrever nada para a Axcel ao que ele respondeu, com um tom de sarcasmo: “então tá legal”. Acho bem feito que tenha se dado mal com o sócio!

No meu caso a coisa não ficou tão séria a ponto de eu precisar processar a editora, tanto porque os valores não eram tão altos que justificassem o desgaste de promover uma ação numa justiça sabidamente lenta. Quanto pelo fato de eu, apesar dos pesares, ter recebido tudo. Mas para conseguir isso, tive muita dor de cabeça e tomei muito chá de cadeira.

De qualquer forma a experiência contribuiu para que eu me decidisse parar de escrever sobre tecnologia (apesar de gostar muito do tema) e passar a fazer livros para quem está se preparando para concursos, um mercado muitíssimo mais promissor.

Fica mais esse testemunho sobre o modo de agir dessa pessoa, cuja fama aliás já é bem conhecida entre os seus próprios colegas editores que já me contaram histórias incríveis sobre ela.